quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Um bonde chamado desejo (A Streetcar Named Desire), 1951

Me recuso a chamar esse filme com o nome que deram para ele no Brasil: Uma Rua Chamada Pecado. SÉRIO? Qual o sentido disso? Além de destruir toda a narrativa, que é excelente e combina com o título, ainda induz ao espectador a achar que é uma coisa, mas é outra. Pior ainda é a capa da versão em espanhol para a latinoamérica. Nela, Marlon Brandon e Vivien Leigh estão ao meio de uma cena de sexo. Bem, isso não acontece, meus amigos. Por mais que exista o desejo, é um desejo bem diferente na relação dos dois. É um desejo do poder. Quase uma questão de submissão. (OK, Stanley violenta sexualmente Blanche, mas não há o sexo. Não são pares românticos) Taí um filme que a autora de 50 tons de cinza poderia ver. Eita livrinho ruim.
Gente, eu sou uma das pessoas que mais consome porcaria no mundo - e até estou acostumado a elas. Mas esse pornô contemporâneo travestido de literatura para mulheres frígidas com mais de 50 anos não me desceu. Bem que tentei, mas não passei da página 40. E acho que fui longe, PUTAQUEPARIU.
Mas voltando ao clássico, que é o que importa. Assisti hoje pela primeira vez Um bonde chamado desejo. OK, mereço penalidade. Esse filme é um clássico, por diversos motivos. Mas o primeiro deles: Marlon Brando. Tá pra nascer um cara como ele. Acho que a expressão "não é só um rostinho bonito" deve ter surgido com ele. PUTAQUEPARIU. Certeza que teria um poster dele no meu quarto se tivesse vivido nos anos 1950. O cara é um excelente ator. Já o vi em Último Tango em Paris, O Poderoso Chefão, Superman, Don Juan e outros, mas nesse, ele se supera. Primeiro porque é a estreia do rapaz no cinema (ele gravou esse filme primeiro, porém Espíritos Indômitos estreou antes). Segundo porque ele se tornou referência de atuação. O método de interpretação do Actor's Studio se instaurou nos Estados Unidos na época desse filme, sendo que Marlon Brando se tornou um dos principais expoentes. O Actor's Studio (também conhecido como O Método) é uma escola de arte que inaugurou uma técnica baseada no método do Stanislavski nos Estados Unidos, particularmente no cinema, onde o ator interpreta de maneira natural, contida, próxima da realidade. Podemos achar isso banal, mas porque estamos acostumado com essa interpretação, mas antes desse bonde, o caminho para a atuação era sempre o exagero. Marlon (ó as intimidade) se tornou um ícone dessa linha de atuação sendo reconhecido como "o ator que mexia no cabelo em cena". Era essa a naturalização que se buscava, como se fosse vida real.


Além dessa inovação, o filme tem uma realização que beira a perfeição. Direção exata, sobretudo de atores. Elia Kazan (um dos que desenvolveu O Método) trabalha os personagens de maneira que você pode até não os entender num momento, mas é tudo tão amarrado que fará sentido depois. Vivien Leigh defende sua Blanche muito bem, um personagem caricato e histriônico, fato que poderia resultado facilmente numa atuação ruim. A histeria e o delírio de sua personagem, que só é revelado no fim (ops, falei o final) esteve presente o tempo inteiro. Como eu amo as personagens loucas... 
O filme também me fez ter vontade de voltar no tempo e assistir a peça. Aproveitar, é claro, para ver o Marlon Brando atuando nos palcos. Sim, ele fez o mesmo personagem no teatro na peça de Tennessee Wiliams. Falando nisso, fiquei com vontade de conhecer a obra desse autor. Acho que será útil. Sempre é. Ah, já ia esquecendo... A história do filme: Blanche DuBois (Vivien Leigh) se muda para a casa da irmã de Stella (Kim Hunter), que é casada com Stanley (Marlon Brando *-*). É descrita como frágil, facilmente abalada pela vida e que prefere a magia à realidade. Ah, ela esconde alguns segredos do passado, sobretudo histórias de um homem que a ama. Blanche abala o casamento da irmã e acaba despertando em Stanley uma desconfiança. Ele quer saber qual é o passado da cunhada. Aí é com vocês... 
O filme é um retrato da sociedade americana na época, mas se tornou universal, pelos seus temas, pelas atuações, pelo clássico que representa. Ganhei meu dia assistindo essa obra-prima. Vale muito a pena. E esqueçam o pecado. Foquem no desejo. No sentido mais literal possível. Apanhe o bonde chamado Desejo e logo depois um chamado Cemitério. Assim, chegará até o seu destino. 


Algumas curiosidades:
- Na peça, o marido de Blanche se suicidava por ter um caso homossexual e ela ter jogado isso na cara dele, ameaçando contar para toda a cidade. Na versão cinematográfica, isso foi cortado por ordens da produtora. Só recentemente, a cena foi incluída. 
- Vivien Leigh foi chamada para fazer Blanche porque já era um rosto conhecido, enquanto os outros atores eram novos para o público. Apenas para chamar audiência. O restante do elenco é original da peça. 
- Tem um episódio dos Simpsons com uma versão para o filme. Quem achar me mostra, por favor? 
- Boatos seguros (e entrevista de Vivien Leigh) apontam que a personagem Blanche foi responsável por ela mergulhar na loucura. Ela chegou até a ficar internada em um sanatório por conta do filme. Heath Ledger não foi o primeiro. 
- Marlon Brando ganhou o papel de Tennessee no teatro depois de fazer um teste pessoalmente na casa do autor. Quer dizer... 


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