domingo, 2 de dezembro de 2012

Polaróides Urbanas, 2008

Quero continuar sendo pretensioso: assistir um filme aleatório no Netflix. Essa foi a experiência que eu me propus. De olhos fechados, eu rodei a roleta de uma opção que se chamava "filmes despretensiosos". E caiu em no filme brasileiro Polaróides Urbanas.
Já tinha ouvido falar dele há algum tempo, talvez na época que lançou, já que lançamentos brasileiros com celebridades do star sistem da TV Globo pautam todos os jornais, revistas e programas de televisão. Acordei nesse domingo, cheio de atividades e trabalhos para fazer para a pós, e comecei a assisti-lo enquanto almoçava.
Resultado? É um bom filme, longe de ser um bom filme brasileiro, mas ainda assim trouxe um pouco de novidade para o cinema brasileiro ao meu ver. Primeiramente, pela temática: não é drama, nem é comédia. Não tem favela, nem violência (um assalto ali só pra constar, mas que pouco interfere na dramaturgia). É apenas um filme sobre a vida no subúrbio (em um conceito americano de subúrbio). Filme que foge, ainda bem, do péssimo padrão de comédias a lá Bruno Mazzeo e, talvez por isso, diverte tanto.
Ok, tem grandes vícios de televisão (e pasmem, do teatro). Mas ainda assim é um avanço para a nossa pequena cinematografia, ao meu ver. É um filme muito autoral, tanto que as imagens que passam junto aos créditos são do ator, diretor, roteirista, produtor Miguel Falabella nos bastidores das filmagens. Dá para perceber que Falabella não largou o ranço da TV e do teatro e não soube fazer a transição completa para essa mídia que ele aventuraria pela primeira vez como diretor. Maior problema? O roteiro. Talvez funcionasse muito bem no teatro, uma vez que o texto é baseado em uma peça de sua autoria, mas no cinema, tudo pareceu muito artificial. A tentativa de fazer algo parecido com o realizado por Alejandro Iñárritu e Guillermo Arriaga em 21 Gramas, Amores Perros e Babel não funcionou muito bem aqui, pelo contrário, parecia um especial ruim de fim de ano da Globo. Divertia, mas sem densidade alguma. A forçada de barra para linkar as histórias chegava ao constrangimento, que poderia ter sido aproveitada apenas para contá-las de maneira separada. Elas funcionavam bem separadas, mas juntas ficavam bem estranhas. Tanto que, diante de tanta história divertida e engraçada, surgia a história da garota suicida, que parecia que eu tinha zapeado para outro canal e estivesse vendo outro filme, quando, na verdade, estava no Netflix. O exagero de cores, gritos, tramas bizarras funciona muito bem em Almodóvar (cineasta cuja produção se baseou). Em Falabella, parece soar muito fora do contexto. E antes que me acusem de valorizar a cultura estrangeira e desmerecer a nacional, aviso que até gosto bastante do trabalho de Falabella na TV e no teatro, mas no cinema, ainda não me agradou. E além disso, sou um entusiasta do cinema nacional e procuro ver sempre as estreias comerciais ou não. E costumo vangloriar ainda mais quando algo dá certo, afinal nosso cinema ainda é uma criança.
Voltando ao filme, o elenco parecia estar em sintonia e fazendo o que dava para salvar seu personagem, mas em alguns momentos, chegava a ser constrangedor a necessidade do diretor de se mostrar mais do que sua história.


Arlette Salles que interpreta uma atriz com síndrome do pânico parecia uma reapresentação de qualquer personagem que já tenha feito. A atenção e o grande mérito do filme devem ser dados para Marília Pera que se divide em duas personagens, as gêmeas Magda e Magali. Uma pacata senhora do subúrbio que vive um casamento falido, sendo seu maior sonho é andar no carro novo do marido e uma excêntrica emergente social (Danuza Leão ficaria em polvo rosa) que aproveita para viajar para o exterior apenas para se gabar para a sua irmã. Marília Pera é tão boa atriz que mesmo em alguns momentos constrangedores, a vontade que nos dá é de tê-la o tempo inteiro em cena.


O roteiro não avança, não tem estrutura dos três atos e muito menos experimental, embora traga frescor ao cinema brasileiro. Então fica claro que é uma adaptação, o que poderia não ser ruim se não fosse o excesso das outras linguagens, como no final onde o elenco sobe ao palco para recitar trechos de uma peça. É assustadoramente vergonhoso.
Mas apesar disso tudo, são 80 minutos que passam rápido e que trazem algumas histórias bacanas, porém mal desenvolvidas no cinema. Fiquei curioso é de assistir a peça, onde Claudia Jimenez interpretava todos os 15 personagens em cena.
As qualidades são eclipsadas pelos defeitos, infelizmente. Mas bem que algum diretor brasileiro poderia embarcar nessa ideia de fugir dos clichês cinematográficos e tentar filmar uma comédia de situação com êxito. Seria muito bom. Caso contrário, esse é um filme apenas para assistir no modo aleatório, de olhos fechados, na sessão "filmes despretensiosos" de um domingo despretensioso.

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