segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret (Hugo), 2011

Tenho pensado muito sobre como as coisas que eu mais gosto de ver, assistir, acompanhar são as coisas mais despretensiosas e simples. Não tenho paciência para proselitismo e exagero, talvez porque eu próprio já seja suficientemente proselitista e exagerado. Mas a sutileza é bem mais atraente do que um elaboradíssimo produto. Arte ou entretenimento, como podem ser vistos um filme, deve por obrigação tocar. Emocionalmente, seja lá qual for a sua intenção. Divertir, entreter, emocionar, fazer rir ou chorar. Tudo é tocar. E acredito que é mais fácil o fácil tocar (pelo menos a mim) do que um amontoado de informações travestido de arte que ninguém entende.
Estive sumido durante o fim de semana, mas quero deixar claro que assisti alguns filmes, que entrarão aqui em outro momento. Vi três neste fim de semana, mas preferi falar do quarto que assisti hoje. E já começo com a minha lamentação de não tê-lo visto em 3D nos cinemas, tecnologia com a qual seu diretor se propôs trabalhar. Mas mesmo assim, o filme me tocou. E profundamente.
Eu tenho meus daddy issues (como quase todo mundo deve ter) e confesso que de graça na me encantei com a história de Hugo. Porém, a simplicidade com que é contada e o universo que nos é apresentado lentamente encanta por quase duas horas que passavam voando, sem ao menos notar. Emociona, diverte e instiga. Você acaba não sabendo direito onde aquela história vai dar, mesmo que isso que não fique martelando em sua cabeça. Você só não sabe, mas não quer descobrir, quer acompanhar. É o que eu humildemente chamo de obra-prima: um produto artístico em que você não recebe, mas acompanha. É como se Scorcese nos puxasse pela mão e nos levasse para aquele universo, que a principio é uma estação de trem, mas se torna a história do próprio cinema.
Cheio de metalinguagem que não faz confusão, o queridinho de Hollywood conseguiu, mais uma vez, contar uma história dramática, só que com um viés infantil, sem deixar de dar os seus tapas na cara da plateia, uma de suas característica. Relembrando sua trajetória cinematográfica e todos os filmes que assisti em minha vida, tenho a dizer que gostei de tudo do Scorcese que eu assisti até o momento. Não consigo lembrar nenhuma de suas histórias menos que brilhantes.



O filme que nasceu para ser infantil consegue atingir todas as idade através de seu personagem título, Hugo, pois o jovem ator Asa Butterfield consegue emocionar na medida certa, assim como todo o elenco. Nessa história o garoto se torna órfão e passa a viver em uma estação de trem em Paris do início dos anos 30. Sua missão é terminar de montar um automato, a última invenção de seu pai antes de morrer que deve trazer uma mensagem deste.  Entre um pequeno roubo para sobreviver e um roubo de peças para sua máquina, ele acaba se relacionando com personagens tipos desse local, como o ranzinza dono de uma loja de consertos (Ben Kinsley), que mais pra frente descobriremos o seu passado e o Inspetor de trens (Sacha Baron Cohen, isso mesmo de Bruno e Borat) com seu cachorro.
Vale ressaltar a construção do personagem de Sacha, que só conheço de suas atuações cômicas. O ator soube dar o tom exato para seu personagem, trazendo a leveza no olhar de quem carrega os seus problemas. Já perdi a conta de quantas vezes usei a palavra simplicidade, mas é nesse sentido que a direção de atores tentou seguir e que o comediante fez com maestria. Fiquei ansioso para vê-lo no papel de Freddie Mercury, num filme biografia que será lançado ano que vem.


Para finalizar, no contraponto disso assisti um espetáculo do Grupo Teatral Espanca nesse último domingo chamado Por Elise, que está me cartaz no Teatro Ipanema até o próximo fim de semana. No começo, me interessei muito, pois tinha boas atuações, era um grupo de teatro de Minas Gerais, ou seja, fora do eixo Rio-SP, que geralmente exporta esse tipo de produto e pela história. Porém tudo depois de um tempo se degringolou-se. A história perdeu-se e tudo parecia ser feito para não ser entendido. Sentido? Talvez, mas já não dava mais tempo. Tudo parecia prepotente e presunçoso, vestindo-se do artifício de que estavam fazendo arte. Talvez por isso o teatro em alguns milênios não conseguiu o que o cinema conseguiu em menos de dois séculos: abocanhar plateias e tocá-las no sentido que mencionei no início do texto. O teatro ainda carrega um ranço de prepotência. Ainda é preciso ser proselitista para emocionar, quando na verdade nada disso precisaria ser necessário. Ao contrário de Hugo (veja bem, não estou comparando duas obras de meios diferentes, mas apenas a forma como se escolhe contar uma história), Por Elise acaba optando por tentar querer ser profundo, quando não alcança nem a superfície. Não é com um monte de frases feitas e textos não entendíveis (a não ser por quem escreveu) que se faz arte ou entretenimento.


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