Valem duas informações relevantes da minha vida. Comecei meio que em cima da hora um curso de cinema, que inclui aulas de Roteiro, Direção e Produção. Isso tudo porque é a área que estou me voltando 100% nessa nova etapa. Fui chamado recentemente para escrever para uma produtora de cinema aqui no Rio (Ikebana Filmes). Terminei meu primeiro roteiro há quase um mês e ele foi rodado hoje. E continuará amanhã. É um curta chamado "Quando se perde a esperança não se tem mais nada a perder", que escrevi em conjunto com Armênio Dias e Allan Souza Lima (que também é o diretor do filme). No elenco, Igor Cosso, Nívea Stelmann e Gisele Froes (vejam algumas fotos aqui no meu instagr.am).
Mas onde quero chegar com isso tudo? Hoje eu assisti um dos piores filmes de toda a minha vida. E olha que já vi muito filme ruim. Para a aula de roteiro, eu precisava assistir "Canção de Baal" como atividade para entender a importância do roteiro clássico para o cinema. E cada aluno deveria escrever uma resenha. Ainda não editei, mas segue abaixo a resenha que fiz para a aula:
CANÇÃO ONÍRICA (e pedante) DE BAAL
Não sou daquele tipo de espectador que critica o experimental como forma
de se demonstrar pedante. E nem acho pedante uma crítica fundamentada ao
extremo. Porem, não me cabe outra palavra para expressar a vontade –
exageradíssima – de expressar que sabe muito de Brecht. Não precisava, minha
cara senhora.
O pior da tentativa do filme não foi ser experimental, mas onírico. É
tudo um amontoado de frases soltas, ações “desacionadas”, típico para entreter
críticos (também pedantes) de festivais, retomando ainda mais a máxima do
pedantismo do cinema brasileiro não comercial. Usei muito a palavra pedante,
não pretendo usá-la mais. Não acho uma boa crítica. E “bons” críticos se armam
mais com boas palavras do que com bons argumentos.
O tempo do filme é descrito de forma aleatória. Cenas jogadas ao vento,
que até fazem algum sentido em sua ordem, mas não são categorizadas para
fazerem sentidos. A proposta é mostrar uma adaptação de um método e uma teoria
brechtiana oriunda dos palcos para as telas. O conflito de Baal não entretem. E
as atuações ficam tons acima do naturalismo que o cinema buscou e alcançou em
anos de luta e conquista. Baal é quase uma celebridade, mas prefere o campo,
como um poeta maldito parnasiano. E nesse ambiente, leva a bagunça por onde
passa. Mas falta contexto, quem não conhece Brecht ficará bem perdido nesse
meio termo. E fazer arte ao mesmo tempo que entretém tem sido uma missão bem
difícil para os intelectuais.
O drama de Baal se perde diversas vezes e, além de atenção (leia-se
segurar para não dormir), é preciso do contexto dito acima. Baal nega o
crescimento profissional e vive de amor e sexo pela natureza. Se apaixona por
mulheres e homens, e fica vagando por essa tentativa de levar o teatro para o
cinema. De fato, conseguiu, só não funcionou. É um filme para críticos e
intelectuais. E olhe lá.
Está achando que eu peguei pesado demais na crítica? Ah, mas o filme ganhou o festival de Gramado. Bem, não foi pelo Juri Popular. Foi pela crítica. E certamente, nem todos os ~da crítica~ que votaram entenderam todas as referências teatrais e brechtianas que existiam no filme. Realmente, reconheço que é muito importante o roteiro clássico. Inovações são bem vindas. Cinema experimental é uma coisa, pedantismo é outra. E depois, olhando para o dia de hoje, vejo que também aprendi muito que um bom roteiro necessita de um bom diretor. E quanto a isso, pode ter certeza que o curta "Esperança" não tropeçará. Allan tem feito tudo com bastante maestria. Aguardem. Gramado te espera! E dessa vez, justo, bem diferente da canção de Baal.
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